Pode ser que você nunca tenha jogado o lendário jogo de RPG “Dungeons & Dragons”, mas é bem provável que já tenha ouvido seu nome em séries como “Stranger Things” ou visto o desenho animado baseado nele – o clássico oitentista “A Caverna do Dragão”. Pois “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” é a mais nova adaptação do jogo que chega às telas misturando cheio humor, ação, fantasia, aventura, dragões e outras criaturas mágicas, feiticeiros. Recheada de easter eggs para alegrar mesmo quem nunca rolou os dados, é praticamente uma Sessão da Tarde perfeita que acerta em cheio ao não cometer o erro das tentativas cinematográficas anteriores: se levar a sério demais. Ponto para roteiro e direção de Jonathan Goldstein e John Francis Daley.
Chris Pine está à vontade como o bardo Edgin Darvis, que preso em uma masmorra inicia a saga contando como foi parar lá ao se envolver com um bando de aventureiros para roubar uma relíquia mágica, história que inclui como conheceu sua colega de cela, a bárbara Holga Kilgore (Michelle Rodriguez, ótima). Nesse pequeno flashback são apresentadas as personagens desse elenco muito bem escolhido, incluindo a filha Kira (Chloe Coleman), o feiticeiro inseguro Simon Aumar (Justin Smith), a druida com poderes de metamorfose Doric (Sophia Lillis), o trapaceiro canastrão Forge Fitzwilliam (Hugh Grant) e a poderosa feiticeira Sofina (Daisy Head), que colocou a quase todos nessa enrascada.
A história toda se desenvolve no clássico arco do herói que se dá mal por um infortúnio da vida (no caso, a morte da esposa), que acabou o levando para um mau caminho. Mas no fundo seus motivos são nobres, e ele está em busca de redenção, reencontrar sua filha e mostrar que sempre teve boas intenções. É quase um Rousseau, onde o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe – ou é isso que ele vai dizer para conseguir uma segunda chance. E uma parte da graça da narrativa é brincar várias vezes com a questão das aparências: nem tudo é o que parece, o que as personagens dizem, o que vemos ou o que o filme nos revela.
Os fãs RPG vão se divertir em dobro, vendo um verdadeiro desfile das personagens clássicas do jogo: o bardo, a druida, o paladino, o feiticeiro ou mago, o bárbaro e o ladino, com mais camadas e mistérios que eles mesmos vão descobrir ao longo da história. Esse universo aparece em pequenos detalhes, e objetos mágicos que dão graça à narrativa até mesmo para quem não conhece nada e foi buscar apenas entretenimento.
Boa parte da diversão vem das cenas de ação. As sequências de luta de Holga são muito bem coreografadas, cheias de jogos de humor visual, enquanto seu parceiro no crime parece apenas apreciar seu talento e se esquivar dos golpes. E se os efeitos especiais não chegam a encher os olhos, conseguem emoldurar belas sequências de transformações fantásticas e engenhosas de luta ou escapada de Doric, incluindo a transformação em um adorável urso-coruja. Menção honrosa para as cenas protagonizadas pelo estóico guerreiro Xenk Yendar (Regé-Jean Page), cuja presença é um deleite visual como o belo paladino: virtuoso, altruísta, atlético, valente, cheio de qualidades mas sem nenhum senso de humor (afinal, ninguém pode ser tão perfeito assim).
O público ainda vai poder se envolver com a história da separação do pai e filha e a saga dos heróis imperfeitos em busca de um bem comum e descobrindo que são melhores do que imaginavam. Há até uma leve pegada ecológica, super atual, criticando a ganância dos homens que, na busca pelo poder, destroem terras, a natureza e os povos que vivem nos mais diversos ecossistemas. E apesar de nos minutos finais o filme querer nos empurrar a mensagem edificante de que são as perdas que transformam as pessoas, vá ao cinema sem expectativas exageradas para desfrutar e passar duas belas horas de entretenimento que passam voando como os dragões de D&D.
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