O Homem dos Sonhos

O Homem dos Sonhos

Nicolas Cage faz bom trabalho em filme que não atinge todo o seu potencial

“Você já sonhou com este homem?”. A pergunta é antiga e já circulou pelo mundo algumas vezes. Fenômenos de pessoas afirmando ter os mesmos sonhos ou com uma mesma pessoa não são novidade por aqui. E foi partindo dessa premissa que o roteirista e diretor Kristoffer Borgli criou “O Homem dos Sonhos”, que está chegando aos cinemas do Brasil.

No filme, acompanhamos a vida de Paul Matthews (Nicolas Cage), que é um tipo de Walter White às avessas, é um homem com boa formação acadêmica e que se encontra dando aulas (ainda que, aqui, seja em uma faculdade). Mas, enquanto White escolheu seguir esse caminho, Paul se sente frustrado e quer ter o seu nome reconhecido como pesquisador. Mas, ele talvez seja o homem mais normal do planeta, até que começa a aparecer nos sonhos de várias pessoas.

Paul Matthews (Cage) em um de seus pequenos surtos (Imagem: divulgação)

Comédia que pensa no mundo de hoje

“O Homem dos Sonhos” é basicamente uma comédia, mas que tem toques de romance e muitos comentários sobre o modo como o mundo funciona atualmente. O primeiro deles é sobre a busca pela fama. Mesmo que negue, Paul adora a atenção que recebe a princípio, quando o fenômeno começa. E mesmo com Borgli sendo norueguês, parece que recorreu a um meme brasileiro. Eu logo lembrei das fotos de Nana Gouvêa posando em um cenário pós-tornado nos EUA enquanto Paul desfilava pelos sonhos trágicos das pessoas.

É nesse contexto também que Borgli faz um comentário sobre como empresas de marketing e publicidade fazem uso de tudo que é minimamente famoso. E a reunião que Paul tem com o dono da agência, vivido por um dos Selton Mellos de Hollywood, Michael Cera, é tão bizarra quanto incômoda. Ao mesmo tempo em que ele e as colegas vão jogando ideias que não têm nada a ver com o contratado, a montagem faz cortes rápidos e mostra posições diferentes daquela sala, para mostrar que todas aquelas ideias são pontas diferentes de um mesmo quadrado. Um quadrado que é revirado à exaustão pra tentar fazer que pareça diferente.

E, como não poderia deixar de ser, toda ascensão vem com uma queda, que hoje é representada pelo cancelamento. E o mais curioso e condizente com o mundo em que vivemos é que, nesse momento, surge o interesse da extrema direita.

Paul na reunião da agência de publicidade (Imagem: divulgação)

Nicolas Cage em mais um bom momento

Mas nada dessa jornada faria sentido se não fosse pela ótima atuação de Nicolas Cage. Primeiro que, ao contrário do que vemos em Blackberry, aqui temos uma careca falsa convincente. Toda a composição física é muito boa, Cage realmente parece um homem extremamente comum, um tipo que nós vemos sempre em todo lugar. E o ator transmite muito bem a mistura de doçura, frustração, curiosidade, excitação e desespero do personagem. Paul passa por tudo isso, muitas vezes ao mesmo tempo, e de forma bem convincente.

Também é legal destacar no elenco Tim Meadows, que faz o reitor da faculdade, em uma ponta pequena, mas com bons momentos de humor. E Dylan Gelula, que interpreta uma assistente da agência de publicidade que tem sonhos bem curiosos com Paul e leva a uma das cenas mais divertidas do filme.

O Homem dos Sonhos é engraçado, mas tinha potencial para ser mais. Quando entra na parte do drama romântico, acaba perdendo um pouco de fôlego, mesmo com a trilha sonora interessante que acompanha. Mas, talvez o maior problema do filme seja não saber como terminar. A impressão que fica no final é que acordamos de um sonho que não vai deixar lembranças por muito tempo.

OBS: Para quem quiser conhecer mais sobre o trabalho de Kristoffer Borgli, fica a recomendação de “Doente de Mim Mesma”, uma comédia igualmente estranha, mas mais bem resolvida e disponível na Mubi.


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