Meu nome é Gal

Meu nome é Gal

Apesar do esforço de Sophie Charlotte, filme acaba por fazer de Gal uma coadjuvante de sua própria história

Em nossas intermináveis discussões sobre filmes contemporâneos e o poder dos algoritmos, Marcudo, Rafa e eu sempre brincamos que a produtora e distribuidora A24 criou um único filme de cerca de 300 horas, e a partir dele são feitos os recortes e adaptações para seus novos lançamentos. E acredito que essa mesma ideia pode ser aplicada para as cinebiografias musicais nacionais. Formulaicas ao extremo, a sensação é de que quem viu uma, viu todas. Seria o tão incensado “padrão Globo de qualidade”?

Só nos últimos 10 anos, vimos contadas nos cinemas as histórias de Tim Maia, Elis Regina, Raul Seixas, Wilson Simonal, Gonzaguinha e Gonzagão, Erasmo Carlos, Renato Russo, entre outras. Talvez a única que me despertou a vontade de uma segunda visita tenha sido a de Cazuza, de 19 anos atrás (é, meus amigos, o tempo não pára). E vale reforçar que por mais que eu respeite a história riquíssima e fugaz do ex-vocalista do Barão Vermelho, musicalmente ele passa longe de ser o meu favorito na lista acima.

Gal (Sophie Charlotte) e Caetano (Rodrigo Lélis) acompanham as críticas no Twitter dos anos 60 (crédito: divulgação)

Voltando ao filme: ao longo de duas horas, acompanhamos a trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos antes de se tornar uma das mais festejadas cantoras do Brasil. Tímida, recatada e “do lar” quando criança e adolescente, a baiana decide se mudar para o Rio de Janeiro no auge de seus 20 anos. Na Cidade Maravilhosa dos anos 60, belamente reconstituída, ela (re)encontra amigos como Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil, que acompanham seus primeiros passos na música, a ajudam a enfrentar a timidez e acabam por formar o movimento da Tropicália.

O elenco de apoio é vasto, e as participações oscilam entre o ótimo (a Dedé Gadelha de Camila Márdila e o Caetano de Rodrigo Lelis estão na medida) e o caricato (o Waly Salomão e o Tom Zé dos bons George Salma e Pedro Meirelles poderiam tranquilamente ficar de fora do corte final). No meio de tantos tropicalistas revolucionários, quem rouba a cena é o empresário vivido por Luis Lobianco, que funciona como alívio cômico e de quebra é o responsável por trazer ao mundo o nome artístico da biografada.

Gal e seus amigos tropicalistas na praia do Rio de Janeiro sépia onipresente nas nossas cinebiografias (crédito: divulgação)

Por falar na protagonista, é nítido que Sophie Charlotte se entregou ao projeto. Ela mudou os cabelos e o sotaque, além de emprestar sua linda voz para alguns dos melhores momentos do filme, que contam com interpretações de clássicos como “Baby” e “Divino Maravilhoso”. Mas a sensação que fica é que aquela magia única da música acontecendo, como vimos recentemente em “Elvis” e “Rocketman”, se perde em meio a tantos acontecimentos históricos empilhados no filme.

Essa necessidade de relatar tantos personagens, locais e momentos de um Brasil consumido pela ditadura militar no intervalo de 120 minutos acaba por fazer de Gal uma coadjuvante de sua própria história e contexto. A ponto de passar longos minutos lamentando o exílio de Caetano e Gil, ao invés de aprofundar suas próprias lutas, virtudes, fraquezas e contradições.

No fim das contas, “Meu Nome é Gal” deve agradar tanto os fãs mais assíduos da cantora, quanto quem viveu a Tropicália ao vivo e a cores. E talvez tenha sido essa a intenção das diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi. Mas acaba por não trazer nada de novo para quem veio depois e criou expectativas de compreender e tatear um pouquinho mais daquela que, ao menos para mim, foi a mais bela e potente voz da nossa MPB.

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