Aquaman 2: O Reino Perdido

Aquaman 2: O Reino Perdido

Bons momentos de direção e CGI não conseguem evitar que o último filme do DCEU naufrague

As minhas lembranças sobre o primeiro Aquaman, lá de 2018, não são muitas, mas são positivas. Sei que, pelo menos, eu me diverti. Mas nem isso conseguiu criar em mim um fiapo de expectativa por “Aquaman 2: O Mundo Perdido“, o filme que encerra de vez o universo cinematográfico da DC chamado de DCEU. Se a Warner não tinha a menor vontade e só lançou nos cinemas porque já tinha gastado mais de US$ 200 milhões na produção, por que iria eu me empolgar? E, realmente, de onde pouco se esperava, saiu menos ainda.

Aquaman 2” tem no roteiro e na direção as mesmas cabeças do filme original: David Leslie Johnson-McGoldrick e James Wan, que entre os dois Aquamans ainda conseguiu espremer Maligno, que é de longe o melhor filme que ele fez nesses cinco anos.

Aqui, nós acompanhamos Arthur Curry/Aquaman, vivido pelo cada vez mais canastrão Jason Momoa, levando tranquilamente a sua vida de rei de Atlântida e de pai de um bebê de poucos meses. Essa paz é quebrada quando um antigo conhecido dele, o Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), retorna em busca de vingança, mas com um poder maligno que coloca em risco toda a vida na Terra. Para lidar com a ameaça, o Aquaman precisa buscar a ajuda de outro antigo desafeto, o seu irmão Orm (Patrick Wilson).

O vilão Arraia Negra, que agora vem mais poderoso. (Imagem: divulgação)


E o tal bromance?

E aí nós vamos para o que mais estava sendo alardeado por diretor e elenco durante a turnê de divulgação, o bromance, a jornada conjunta dos dois irmãos marinhos. É verdade, essa talvez seja a parte que mais funciona no filme, mas até certo ponto. A interação entre Momoa e Wilson é boa, mas o roteiro é muito pobre, tanto por ser previsível quanto por trazer um humor que não tem graça. O ponto alto dessa relação é quando Aquaman apresenta para Orm “o camarão da terra” (lembrando que Orm nunca havia saído do fundo do mar) e isso desagua na cena pós-créditos mais desnecessária da história, mas que é um paralelo muito bom da nossa relação com essa DC nos cinemas.

Bromance à parte, Aquaman 2 faz quase todo o resto errado. Não tem uma cena, sequência ou dinâmica que a gente não saiba como vai terminar. Não existe nenhuma sensação de risco ou urgência para os personagens. É tudo tão sem sal que eu cheguei a torcer por uma morte que seria pavorosa, só pra ver se o filme demonstrava alguma emoção. E tão terrível quanto é o pano de fundo, porque aquela Terra enfrenta o que a nossa está enfrentando, um aquecimento global acelerado (hoje, já se considera uma ebulição global), que causa desastres por todo o planeta. Mas, se as consequências são reais, a origem do problema no filme é totalmente fantasiosa, assim como a solução adotada, ou seja, não serve nem como um alerta para a nossa autodestruição.

Outra coisa que não funciona são as referências, e o filme tem muitas. Desde mais inofensivas, como a Náufrago, do Tom Hanks, ou ao Loki, lá da Marvel, até Star Wars e uma pitada de A Lenda do Cavaleiro Verde. Mas o que mais pesa é a referência (ou pior, reverência) ao trabalho de Zack Snyder. Porque Aquaman 2 tem uma profusão de super-hero moments, com trilha apelativa e até câmera lenta, pelo menos não tanta. E prefiro nem falar o que eu penso sobre a versão de Born to be Wild que eles fizeram.

Aquaman e Orm, um bromance no mar e na terra. (Imagem: divulgação)


Direção tem bons momentos

James Wan até tem méritos na direção. O filme tem boas cenas de ação. Eu gosto da sequência inicial, em que Aquaman enfrenta uma horda de inimigos em paralelo com uma situação bem mais amena. As cenas de lutas coletivas são boas, como a de um deserto ou a própria luta final. Já o CGI tem os seus altos e baixos. Para um filme essencialmente de tela verde, até que no geral os cenários seguram bem, e isso que eu assisti em uma sala Imax e também em 3D. Mas tem momentos em que tudo grita artificialidade, o efeito dos cabelos longos debaixo da água, por exemplo, é bem ruim e usado à exaustão.

Agora, a fauna é bem construída, tanto as criaturas de Atlântida, quanto as da areia e aquelas de uma ilha que eles visitam. Mas tem uma exceção, que é um bar no qual eles vão próximo de Atlântida. Ali, claramente a intenção era emular um bar alienígena de Star Wars, mas não deu certo. Tem até uma versão marinha do Jabba the Hutt, visualmente tosca, mas bem dublada pelo Martin Short.

O CGI gera bons momentos. (Imagem: divulgação)


Nove atores para um personagem

Boa parte do elenco do primeiro filme, como eu já citei, está de volta, inclusive Amber Heard. Havia toda uma história sobre ela ter sido cortada após as polêmicas da vida pessoal, mas ela segue no filme, tem até um bom tempo de tela e faz um trabalho competente, dentro do possível. Outra que pagou os boletos com Aquaman 2 foi Nicole Kidman, que continua trazendo nobreza, leveza e um braço pesado para a sua Atlanna. Dolph Loungdren, quase irreconhecível, faz o básico com o seu Rei Nereu. O mesmo para Randall Park, que passa o filme INTEIRO falando “inacreditável”. Haja ceticismo (e paciência). E uma curiosidade, foram utilizados nove atores bebês para interpretar o filho do Aquaman.

Quanto ao trio principal, Yahya Abdul-Mateen II faz o que é possível com um vilão que tem a mesma motivação de sempre. Patrick Wilson também não vai além do correto. Já Jason Momoa, não sei se gravou Aquaman 2 antes de Velozes e Furiosos 10, mas parte da canastrice exacerbada de lá veio para cá. Na ação até vai bem, ele parece se divertir no personagem, mas as piadas não funcionam mais. No final do filme, inclusive, ele também parece estar claramente e toscamente emulando o Tony Stark do Robert Downey Jr., outra referência.

Aquaman 2 tem 2h de duração – que se mostram bem cansativas – e deve agradar a uma parte dos fãs. Mas, acredito que, no fim, o que o filme faz de melhor mesmo é enterrar de vez a fase Snyder da DC, no fundo do oceano.

Nicole Kidman pagou umas contas com o filme, mas esse cabelo esvoaçante… (Imagem: divulgação)


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